segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Igreja Ortodoxa acusa Maçonaria de estar por detrás de documentário “O Túmulo Perdido de Jesus”



O documéntário produzido por James Cameron, o realizador do filme Titanic, que estreia hoje no Discovery Channel, foi mal recebido pela Igreja Ortodoxa Russa, que vê nele mais uma etapa da guerra entre a Igreja Católica e a Maçonaria.

O diácono Andrei Kuráiev, conhecido teólogo ortodoxo russo e professor da Academia Teológica de Moscovo, constatou hoje a existência de uma “relação sazonal” entre mais uma notícia sobre a descoberta dos restos mortais de Jesus em Jerusalém e as anteriores campanhas “barulhentas” em torno de “sensações científicas” do tipo do Evangelho de Judas, que põem em causa os postulados do Cristianismo.

“Todas as Primaveras, na véspera da Páscoa católica, no mundo informativo ocidental ocorre a agudização de semelhante temática. Lança-se uma substância mal-cheirosa que supostamente põe em causa a nossa fé evangélica” – declara Kuraiev, e acrescenta: “Depois, mais perto do mês de Junho, aparece um desmentido escrito com letras pequenas, mas já são poucos os que o lêem”.

O conhecido teólogo ortodoxo recomenda reler atentamente o livro O Código da Vinci, cuja “tese principal, bem realista, ao contrário de numerosos pormenores que são fantasias, consiste em que a cultura espiritual do mundo ocidental actual é definida pelo confronto de duas estruturas: a Igreja Católica e o movimento maçónico”.

“Provocações anti-cristãs nos média ocidentais, tais como O Código da Vinci e o Evangelho de Judas tornaram-se uma espécie de fenómeno sazonal” – continua Kuraiev, acrescentando: “Mas o seu c rácter permanente testemunha a existência de um actual Priorado de Sião, mesmo que com outro nome, que tem acesso considerável aos meios de comunicação e mantém um ódio estável ao Cristianismo”.

“Que não se relaxem com o desaparecimento do socialismo e do campo soviético e não considerem que agora vivem numa sociedade de liberdade de consciência garantida, que exclui contra eles qualquer provocação” – dirige-se Kuraiev aos cristãos ocidentais, e conclui: “A guerra fria contra o Cristianismo no mundo ocidental continua”.

A ideia do filme é que Jesus não ressuscitou, foi sepultado em Jerusalém com a família, incluindo o filho que teve com Maria Madalena.

“Não podemos imaginar que a descoberta de uma sepultura mude a composição da Sagrada Escritura” – conclui o teólogo russo.


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domingo, fevereiro 25, 2007

Um dos prováveis sucessores de Putin visita Portugal



O vice-primeiro ministro russo Serguei Narichkin e o ministro da Economia português, Manuel Pinho, deverão patrocinar, na próxima terça-feira, a assinatura de uma série de acordos económicos com vista a impulsionar as relações entre Portugal e a Rússia.

O turismo é um dos sectores onde a cooperação se poderá desenvolver mais rapidamente, tendo até agora sido travada pela deficiente ligação aérea directa entre Moscovo e Lisboa.

Em conformidade com um dos acordos a assinar, aviões Boeing - 575 da companhia aérea russa Krasair vão começar, a partir de 3 de Julho, a realizar dois voos por semana entre as capitais russa e portuguesa: às terças e sextas-feiras. Até agora, existia apenas um voo directo entre Moscovo e Lisboa. Além disso, vai manter-se no Verão o charter semanal entre Moscovo e Faro.

No ano passado, cerca de 14 mil turistas russos visitaram Portugal, mas este número poderá aumentar consideravelmente se forem melhoradas as ligações aéreas directas entre os dois países e se o Governo de Lisboa investir na publicidade de Portugal como destino turístico.

Além disso, no âmbito da visita de Narichkin a Lisboa, será assinado também entre o presidente da Agência Portuguesa para o Investimento, Basílio Horta, e o director da Campanhia Nacional de Gás da Rússia, Mikhail Guenkin, um acordo de reserva de terreno para a instalação de uma nova fábrica de etileno em Sines. Este investimento russo poderá rondar os 65 milhões de rublos. Serguei Narichkin, que também dirige a comissão bilateral russo-lusa para a cooperação económica e científica, está no centro das atenções dos analistas políticos russos devido às sérias mudanças no governo, realizadas por Vladimir Putin na semana passada.

Narichkin, que ocupava o cargo de chefe do aparelho do governo russo, foi promovido a vice-primeiro-ministro encarregado da cooperação económica com os países estrangeiros, sendo a sua visita a Portugal a primeira nessa qualidade.

Esta promoção foi vista como o aparecimento de mais um sério candidato, além dos primeiros vice-primeiros-ministros Dmitri Medvedev e Serguei Ivanov, à sucessão de Putin no Kremlin em 2008.

Serguei Narichkin é um político da inteira confiança de Vladimir Putin. Originário de Leninegrado (São Petersburgo), tal como o actual Presidente russo, Narichi trabalhou com Putin nos serviços de relações internacionais da Câmara Municipal dessa cidade nos anos 90 do século passado.

Depois de Putin se ter transferido para Moscovo, Narichkin vem para a capital russa em 2004, para ocupar o cargo de chefe do departamento económico da Administração presidencial. No mesmo ano, passa a ocupar o cargo de dirigente do aparelho do governo, sendo considerado os “olhos e ouvidos” do Kremlin no executivo do primeiro-ministro Mikhail Fradkov.

“Actualmente, Putin edifica um sistema de pesos e contra-pesos, que limitará as possibilidades do próximo presidente e lhe permitirá conservar as funções de árbitro depois de abandonar a Presidência” – considera Alexei Makarkin, vice-director do Centro de Tecnologias Políticas, acrescentando que “Narichkin poderá ser uma figura fulcral entre o “falcão” Serguei Ivanov e o “liberal” Dmitri Medvedev”.

O director do Centro de Informação Política, Alexei Mukhin, considera que Narichkin não irá tão longe, mas que tem grandes possibilidades de vir a ser nomeado primeiro-ministro depois das eleições presidenciais de 2008.


quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Sol enganador!




Hoje o Sol brilha em Moscovo, mas a temperatura do ar ronda os -20 graus centígrados e a metereologia promete ainda mais frio. O aquecimento em casa está a responder bem à situação, mas o problema consiste em que é preciso sair para a rua. Acontece...

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Na "perestroika" o Kremlin hesitou em quem apostar em Luanda







Em plena "perestroika", o Kremlin chegou a hesitar se apostava em Eduardo do Santos ou em Savimbi, muito por causa do efeito que o líder da UNITA provocou em Eduard Chevarnadzé, ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética.

Mas se Jonas Savimbi conquistou a simpatia pessoal de Eduard Chevarnadzé, ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética, a verdade é que nunca deixou de ser um dos homens mais procurados pelos serviços soviéticos e, depois, russos.

Em 1988, Savimbi encontrou-se com Chevarnadzé no edifício das Nações Unidas em Nova Iorque e, a seguir, o chefe da diplomacia soviética reconheceu a um dos seus assessores: "Recordo o encontro com Savimbi, dirigente da oposição angolana. A propaganda, recorrendo a palavras suaves, não o elogiava e eu aceitei, com algum receio, conversar com ele. Constatei que era um homem muito culto, médico, inteligente. Então, conversámos muito bem e chegámos a acordo sobre muita coisa".

Vladimir Kazimirov, então embaixador soviético em Luanda, comentou, em declarações à Lusa, estas palavras de Chevanadzé: "Depois do encontro de Chevarnadzé com Savimbi em Nova Iorque, em Moscovo quase surgiram hesitações: em quem apostar em Angola? A nossa embaixada defendia a aposta em dos Santos a despeito da moda de então e no ponto mais alto do poder dos "democratas" de toda a espécie. Os assessores de Chevarnadzé e até a nossa imprensa começatam a pintar Savimbi com cores bonitas, sublinhar a sua inteligência, sentido de humor, etc.".

A fim de travar essa onda, Kazimirov recordou que "na UNITA havia não só o culto de Savimbi, mas também feitiçaria, castigos corporais e outras "pérolas democráticas medievais"".

Antes e depois deste episódio, os serviços secretos soviéticos e, mais tarde, russos, envolveram-se directamente no combate à FNLA de Holden Roberto e à UNITA de Jonas Savimbi, tentando também conseguir a liquidação física do líder do "Galo Negro".

"Apoiando-se nos Estados Unidos e na África do Sul, no início de 1975, a FNLA e a UNITA tentaram conquistar Luanda, capital de Angola. Os serviços de reconhecimento externo soviéticos entraram em contacto com Agostinho Neto (...) Na base das informações desses serviços, o governo soviético decidiu enviar urgentemente para Luanda armamentos para repelir a intervenção externa (...) Os invasores sofreram uma derrota demolidora e foram obrigados a recuar para o norte, quase até à fronteira do Zaire. Os serviços de reconhecimento externo soviéticos fizeram gorar a operação da CIA para conquistar Luanda e entregar o poder a H.Roberto e J. Savimbi" - lê-se na história oficial do Serviço de Reconhecimento Externo (SVR, ex-KGB) da Rússia.

Em finais de Dezembro de 1984, quando Savimbi participava num comício da UNITA, aviões MIG, tripulados por pilotos soviéticos, bombardearam o local para o liquidar.

Serguei Kononov, veterano russo da guerra em Angola, escreveu no seu diário a 24 de Dezembro de 1984: "às quatro horas, fui a casa de Slavik Paskal (piloto soviético) e ele preparava as malas.

- Para onde vais? - Talvez amanhã deva regressar à URSS.

- Porquê? - Dizem-me que não posso ficar aqui.

Compreendi que algo estava mal. Na manhã seguinte, ele foi para o aeroporto.

- Foste tu que deste cabo de Savimbi? - Não sei, só vi que eles, de camisas vermelhas, fugiam do comício".

Dessa vez, os soviéticos falharam, mas, em Fevereiro de 2003, logo a seguir à morte de Savimbi, alguma imprensa russa não se esqueceu de recordar que, na realização da operação, as tropas angolanas contaram com a colaboração dos serviços secretos russos.

Serguei Kolomnin, veterano russo da guerra em Angola, escreve no seu livro "Tropas especiais russas em África": "De súbito tocou o telemóvel. Telefonou-me de Luanda um dos nossos conhecidos que trabalhavam por contrato com as forças armadas governamentais. Deu-nos os parabéns e disse entre outras coisas: Acabou tudo, rapaziada, as tropas especiais mataram Savimbi. Por isso a guerra chega ao fim e talvez nos mandem para casa dentro de pouco tempo".

Oficialmente, as autoridades soviéticas sempre afirmaram que em Angola não combatiam militares seus, mas a realidade é bem diferente.

Segundo dados recentemente revelados, em território angolano, no período entre 1975 e 1991, combateram cerca de 11 mil militares soviéticos, entre os quais 107 generais e almirantes, 7211 oficiais, mais de 3,5 mil cabos, furriéis, praças.

Quanto a baixas, o número oficial é de 11 mortos, entre os quais sete oficiais e quatro praças.

Porém, Serguei Kolomnin considera que o número de mortes é bem maior: "Durante os 17 anos de cooperação político-militar com Angola, que terminou com a desintegração da URSS, as nossas perdas, segundo os meus cálculos, foram superiores a cem pessoas".

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

A beleza do Inverno russo

Dizem, e com toda a razão, que nem só de política vive o homem. Por isso, para variar um pouco e criar inveja a muitos que por cá passaram, publico umas fotografias tiradas no bosque situado perto do apartamento onde resido, no Sudoeste de Moscovo.
A temperatura do ar é de 11 graus negativos, mas está um Sol maravilhoso e é agradável passear num dos cada vez menos lugares da capital russa onde ainda se pode respirar ar puro.







quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Mudanças com vista à sucessão no Kremlin


Vladimir Putin fez importantes alterações no Governo, sendo a mais importante a promoção de Serguei Ivanov, um dos mais prováveis sucessores de Putin no cargo de Presidente da Rússia.

Ivanov, que antes ocupava os cargos de vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa da Rússia, foi promovido a primeiro vice-primeiro ministro do Governo, anunciou Putin numa reunião sobre questões económicas no Kremlin.

O dirigente russo assinou um decretou que alarga seriamente as competências de Serguei Ivanov. Além do complexo militar-industrial, ele irá controlar “parte do sector civil da economia”.

“Nestas condições, ele não pode continuar a cumprir as funções de dirigente do Ministério da Defesa. Neste caso, não se pode estar sentado em duas cadeiras ao mesmo tempo” – sublinhou Putin.

A pasta da Defesa será ocupada por Anatoli Serdiukov, que até agora dirigia o Serviço Federal dos Impostos da Rússia.

Putin transferiu também Serguei Narichkin do cargo de chefe do aparelho do Governo russo para vice-primeiro-ministro, encarregado das relações económicas com os países da Comunidade de Estados Independentes.

“Formalmente, a nova nomeação de Ivanov é uma promoção significativa. Coloca-o ao mesmo nível do seu possível concorrente na corrida presidencial: Dmitri Medvedev, que também é primeiro vice-primeiro ministro” – declarou à Lusa o analista político Vladimir Dolin, sublinhando, porém, que “é preciso saber mais precisamente as funções que Ivanov irá desempenhar para tirar conclusões mais precisas”.

O novo primeiro vice-primeiro-ministro, Serguei Ivanov, que tal como Putin nasceu em São Petersburgo e trabalhou durante muitos anos nos serviços secretos soviéticos (KGB), é considerado o representante dos siloviki (homens dos serviços secretos e militares) no Kremlin, enquanto que Dmitri Medvedev é visto como o dirigente da ala liberal na corte russa.

Anatoli Serdiukov, novo ministro da Defesa, não nasceu em São Petersburgo, mas foi aí que fez a maior parte da sua carreira. Originário de Krasnordar, no Sul da Rússia, onde nasceu a 8 de Janeiro de 1962, terminou o Instituto de Comércio Soviético e a Faculdade de Direito da Universidade de São Petersburgo, a mesma faculdade onde estudou o actual Presidente russo.

Dirigiu várias empresas de fabrico de móveis nos anos 90 do século passado e, em Outubro de 2000, passou a trabalhar no Serviço Federal de Impostos de São Petersburgo e, em Julho de 2004, veio para Moscovo dirigir esse serviço.

Serguei Narichkin é também originário de (São Petersburgo) Leninegrado. Entre 1982 e 1992, foi funcionário da secção económica da Embaixada da URSS na Bélgica e, quando regressou à Rússia, trabalhou com Vladimir Putin na Câmara Municipal dessa cidade.

Em 2005, foi nomeado chefe do aparelho do Governo russo.

Torna-se evidente a continuação da política do Presidente Putin de, antes de abandonar o Kremlin em 2008, colocar homens seus (dos serviços secretos e de São Petersburgo) em postos fulcrais, para continuar a influir na política russa depois de abandonar o cargo de Presidente.


Bielorrússia aumenta taxas de trânsito para o petróleo russo


O Governo da Bielorrússia decidiu aumentar em mais de 30% o preço das taxas de trânsito do petróleo russo que é exportado pelo gaseoduto Drujba para a Europa Ocidental. Além disso, Minsk procura com a Lituânia fontes alternativas de abastecimento de crude.

O Ministério da Economia anunciou que, a partir de hoje, a Rússia terá de pagar 2,6 dólares por cada tonelada de petróleo exportado para a Polónia e a Alemanha, 1,26 dólares pelo trânsito para a Lituânia e 1,14 para a Ucrânia.

Segundo as autoridades bielorrussas, este aumento de taxas de trânsito trará anualmente à economia do país 50 milhões de dólares, número que ainda está muito longe do prejuízo provocado pelo aumento do preço do petróleo russo importado pela Bielorrrússia, calculado em cinco mil milhões de dólares pelo Presidente Alexandre Lukachenko.

“Se o Presidente russo se lembrou da passagem para relações de mercado, nós, como compensação, pedimos à Rússia que nos pague em moeda convertível pelos serviços que, antes, eram grátis” – declarou Lukachenko na semana passada, e enumerou: “Tem-se em vista o trânsito (do petróleo e mercadorias), a cooperação militar e o enclave russo de Kalininegrado”.

O Ministério da Defesa da Rússia usufrui gratuitamente de duas bases militares na Bielorrrússia: a Estação de Prevenção de Ataques de Mísseis “Volga” e o Centro de Comunicações “Antei”, que garante as comunicações com os submarinos russos que navegam no Atlântico.

Por enquanto, a Rússia não pretende responder com sanções. “Por enquanto ainda não se pode falar em medidas de resposta” – declarou German Gref, Ministro do Desenvolvimento Económico da Rússia, mas sublinhou que o aumento de tarifas só pode entrar em vigor com o acordo da Rússia.

“Se essas taxas estiverem dentro do quadro existente de indexação, considero-as aceitáveis” – conclui Gref.

Porém, Semion Vainchtok, director da Transneft, empresa que detém o monopólio do trasnsporte do petróleo russo através dos oleodutos, ameaçou com a construção, em ano e meio, de um novo pipe-line para o Mar Báltico, ladeando o território bielorrusso.

Receando retaliações da parte de Moscovo, o Governo bielorrusso tenta diversificar as fontes de abastecimento de hidrocarbonetos.

“A Bielorrússia está pronta a analisar a proposta da Lituânia sobre a possibilidade de utilizar o porto de Klaiped e os caminhos de ferro lituânos para organizar o fornecimento de petróleo à Bielorrússia por via marítima” – declarou Mikhail Ossipenko, director do consórcio bielorrusso Belneftekhim.

“A Bielorrússia e a Ucrânia estão sujeitas às manipulações do senhor Putin. A criação de semelhante sistema permitirá prevenir-se contra bloqueios petrolíferos da parte da Rússia”.

Ao mesmo tempo, a Lituânia tenta ser o elo de aproximação do Governo bielorrrusso à União Europeia.

“Poderíamos ser os vossos advogados em Bruxelas e no diálogo com a União Europeia” – declarou Edminas Bagdonas, embaixador lituâno em Minsk, sublinhando: “a Lituânia, enquanto membro da UE, apoia a sua política e está à espera de propostas concretas da parte bielorrussa”.


quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Na Turqueménia não ficará tudo na mesma


Tal como já se esperava, o novo Presidente da Turqueménia é Gurbanguli Berdimukhamedov (na foto), 49 anos. Foi eleito com 89,23% dos votos numas eleições onde participaram quase 99% dos eleitores inscritos. Os restantes votos foram repartidos pelos outros cinco candidatos.
Uma verdadeira farsa, mas nem tudo continuará como no tempo de Saparmurat Niazov, também conhecido por "Pai de todos os turquemenos". Berdimukhamedov prometeu continuar a política do seu antecessor, mas (atenção!) anunciou que vai permitir o acesso dos cidadãos à internet (no edifício dos correios em Achkhabad, capital do país, já foram instalados cinco computadores com ligação à rede) e aos telemóveis, bem como voltar a permitir o ensino do russo e inglês nas escolas. Alguns já falam em "degelo" (comparando este período na Turqueménia ao período após a morte de Estaline na União Soviética). Vamos ver. Afinal, o "degelo soviético" também não conduziu logo à "primavera política", mas a um período de novo "resfriamento". A verdadeira primavera chegou apenas em 1985, mas chegou.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Aconselho leitura de....

Caros leitores, aconselho vivamente a leitura atenta da versão integral do discurso de Vladimir Putin em Munique, na sexta-feira. O texto em inglês pode ser encontrado no sítio abaixo citado:
www.kremlin.ru/eng/sdocs/speeches.shtml

Turqueménia: Participação total e calma marcam eleições presidenciais


As eleições extraordinárias na Turqueménia para eleger o sucessor do falecido “Presidente vitalício”, Saparmurat Niazov, decorreram num clima de calma e com uma participação massiva dos cidadãos, segundo as autoridades desse país da Ásia Central.

A Comissão Eleitoral Central (CEC) anunciou que acorreram às urnas quase 99 por cento dos eleitores inscritos, número calculado em pouco mais de 2, 6 milhões.

Estas eleições, as primeiras na história do país com a participação de vários candidatos, foram realizadas depois da morte inesperada de Niazov, que governou a Turqueménia com poderes ditatoriais durante 21 anos: seis como primeiro-secretário do Partido Comunista dessa ex-república soviética e 15 como Presidente.

Seis candidatos disputam o cargo, mas o favorito é Gurbanguli Berdimukhammedov, 49 anos, ex-ministro da Saúde e, actualmente, Presidente interino da Turqueménia.

Será eleito Presidente do Turqueménia o candidato que conquiste a maioria absoluta dos votos e ocupará o cargo, segundo a Constituição, durante cinco anos, a não ser que se autoproclame também “pai de todos os turquemenos” tal como o seu antecessor.

As autoridades de Achkhabad não convidaram observadores internacionais e recusaram vistos aos jornalistas que queriam cobrir as eleições, à excepção de alguns russos.

O correspondente da agência russa RIA-Novosti informa que “todos afirmam que a vida será melhor depois das eleições”, citando as palavras de uma mulher: “apenas esperamos coisas boas das eleições” e de um idoso: “espero que o novo Presidente aumente as reformas”.

Os resultados do escrutínio serão anunciados oficialmente amanhã numa sessão especial do Conselho Popular (Parlamento), na qual será também investido o novo chefe de Estado.

As autoridades proibíram a realização de sondagens à boca das urnas e não revelam se vão publicar resultados preliminares ou não.

“Não obstante todos os problemas e críticas às eleições, tudo indica que haverá alguma mudança para melhor” – declarou aos jornalistas em Moscovo Bairam Sijmuradov, um dos dirigentes da oposição no exílio.

A Turqueménia, o quarto ou quinto produtor de gás natural do mundo e o segundo no espaço pós-soviético depois da Rússia, tem acesso ao Mar Cáspio, onde se encontra uma das maiores reservas de hridrocarbonetos do planeta.

Niazov soube manter o equilíbrio entre a Rússia, Estados Unidos e China e espera-se que o novo Presidente continue esta política no campo externo.

A antiga república soviética, com uma área de 448.100 quilómetros quadrados e uma população de cinco milhões de habitantes, faz fronteira com o Irão, Afeganistão, Uzbequistão e Cazaquistão.

sábado, fevereiro 10, 2007

Turqueménia: Eleições presidenciais com vencedor conhecido




Os turcomenos vão às urnas no Domingo para eleger o sucessor do ditador Saparmurat Niazov no cargo de Presidente da Turqueménia. Os candidatos são muitos, mas já é conhecido o eleito.

Os deputados do Conselho Popular (Parlamento) da Turqueménia autorizaram a participação de seis candidatos na corrida ao cargo de Presidente do país, porém o eleito será Gurbanguli Berdimukhammedov (no centro da foto), que dirigente interinamente a Turqueménia.

Berdimukhammedov, 49 anos, era um dos homens mais próximos do Presidente Niazov, que faleceu no passado mês de Dezembro, e vai ser o escolhido para realizar a política da “mudança na continuidade”.

Os restantes cinco candidatos servem apenas para dar um “ar democrático” ao escrutínio, porque a oposição foi excluída do boletim de voto. Os opositores que se encontram no estrangeiro não puderam regressar ao país e o único candidato da Oposição Democrática Unida no interior do país, Nurberdi Nurmammedov, foi raptado em Achkhabad, capital da Turqueménia, a 12 de Dezembro de 2007.

Porém, como diz um ditado oriental :”É impossível voltar a injectar ar num balão furado”, o que, em relação ao regime herdado de Niazev, significa que o seu sucessor não o poderá deixar inalterável, terá de lhe dar um ar menos odioso.

Durante a campanha eleitoral, Berdimulhamedov libertou alguns dos opositores do antigo ditador, mandou destruir a principal prisão política de Ovadan-Depe e prometeu aos eleitores o acesso à Internet caso vença as eleições.

Porém, as mudanças não prometem ser fundamentais.

“Na primeira etapa, prevê-se, fazendo algumas alterações na base legislativa, redistribuir os poderes entre os representantes dos grupos que vão chegar ao poder e impedir, desse modo, a concentração do poder numas sós mãos, ao mesmo tempo que se exclui qualquer possibilidade de participação no processo de figuras políticas da oposição que se encontram fora do país” – considera Nikita Nikolaev, especialista em problemas da Ásia Central.

Essas alterações deverão estender-se no tempo, não só porque no país praticamente não existe oposição ao regime, mas também porque a pressão internacional não deverá ser muito grande, dada a importância estratégica da Turqueménia no campo da exploração e exportação do gás (o 4º maior produtor mundial).

“A actual posição da Rússia consiste em que nada mude. E quanto aos direitos humanos, todos estão-se nas tintas para isso” – constata Alexei Malachenko, analista do Centro Carnegi de Moscovo.

A morte do “Presidente vitalício” aos 66 anos, que governou o país durante 20 anos, e a mudança do poder na Turqueménia coincidiram com importantes acontecimentos energéticos na Europa: o conflito entre a Rússia e a Bielorrússia em matéria de gás voltou a mostrar ao Ocidente a sua dependência face aos tubos que transportam os hidrocarbonetos do Leste. Neste sentido, Achkhabad transforma-se num jogador ainda mais importante no espaço post-soviético.

O novo Presidente turcomeno irá ter em conta este factor geopolítico nas relações com a China, Estados Unidos, Rússia e União Europeia.

Washington defende há muito tempo a construção de um gaseoduto desde a Turqueménia até ao Paquistão e a Índia através do Afeganistão, e outro através do Mar Cáspio, ladeanddo a Rússia. Este último plano está também a ser estudado pela União Europeia.

Até agora, a Rússia tem o monopólio do transporte do gás turcomeno para a Europa.

Pouco antes de falecer, Niazov assegurou aos políticos europeus que, no futuro, se poderia construir um gaseoduto da Turqueménia até à Europa.

Leonid Ragozin, jornalista da versão russa da revista Newsweek, vê nisso uma das razões do regime ditatorial de Niazov não ter aparecido na lista americana dos países do “eixo do mal”, não obstante de ser um regime bem mais odioso do que os existentes na Bielorrússia ou Venezuela.

Durante a visita do “Turkmenbashi” (pai de todos os turcomenos) a Pequim, em Abril de 2006 nasceu o plano da construção de um gaseoduto da Turqueménia para a China. Niazov prometeu fornecer a Pequim 30 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano.

Este equilíbrio deverá manter-se como garantia da sobrevivência do regime. O jornal russo “Voenno-promichlenni Kurier escreve a propósito: “É pouco provável que os Estados Unidos e Europa aceitem que o novo Presidente opte por uma política pró-russa, permitindo que as companhias russas assumam a exploração de novos jazigos e a construção de novos gaseodutos”.

Além disso, as grandes potências não estão interessadas na desestabilização de mais um país da Ásia Central, região extremamente complicada e com regimes instáveis no Afeganistão, Quirguízia e Uzbequistão.

Moscovo aumenta exportação de armamentos



A Rússia ganhou cerca de seis mil milhões de dólares em 2006 na venda de armamentos, mas os novos contratos assinados prometem novo aumento das exportações militares, escreve o semanário russo Kommersant-Vlast.

A Rússia assinou com a Argélia e a Venezuela contratos de 7,5 e 3 mil milhões respectivamente. As forças armadas argelinas irão receber 28 caças SU-30MKA, 38 Mig-29SMT e Mig-29UBT, 16 aviões de treino Iakovlev Iak-130, 8 conjuntos de sistemas anti-aéreos S-300PMU-2 e 180 tanques T-90S. Além disso, a Marinha de Guerra argelina encomendou a estaleiros russos dois submarinos do projecto 636.

A Venezuela adquiriu na Rússia 24 caças multifuncionais SU-30MKV, 38 helicópteros de diferentes modelos, 100 pistolas automáticas AK-103 e oficinas de produção de metralhadoras e munições. A tudo isso somam-se os compromissos contratuais com Moscovo em 2007, que rondam os 24 milhões de dólares, sendo a sua estrutura melhorada tanto pela variedade de produtos, como pelo número de Estados compradores.

Importantes contratos foram assinados também com clientes tradicionais. A China adquiriu um novo lote de oito sistemas anti-aéreos S-300PMU-2 no valor de mil milhões de dólares. A Ìndia fechou com a Rússia um contrato de construção de três fragatas do projecto 11356 por 1,6 mil milhões de dólares, ao mesmo tempo que o Vitname comprou dois navios Guepard-3.9 para a guarda-costeira e o sistema de mísseis costeiros Bastion.

2005 foi o ano do aumento brusco de fornecimentos material bélico marítimo, enquanto que em 2006 se registou a recuparação da nomenclatura mais tradicional de vendas de armamentos, metade das quais foi constituída por exportações de aparelhos para a aviação militar. Nos finais do ano passado, Moscovo entregou a Caracas o primeiro lote de quatro caças multifuncionais SU-30MK2V e a Argel os dois primeiros Mig-29SMT e dois Mig-UBT. A Índia recebeu 15 dos 140 lotes de equipamentos para os caças SU-30MKI, que, segundo o contrato assinado em 2000, serão produzidos nesse país.

Manteve-se igualmente a exportação de helicópteros. Os principais clientes foram a China e a Venezuela. Caracas recebeu seis helicópteros MI-17V-5, três MI-172, oito MI-35 e um MI-26T, no valor total de 270 milhões. A China recebeu os primeiros doze MI-171 dos 24 aparelhos de combate a incêndios encomendados em 2006. Foram assinados contratos com a República Checa, Iraque, Sudão, México, Coreia do Sul e Espanha.

No segmento marítimo, destacam-se a entrega à China do último dos oito submarinos do projecto 636 encomendados e o segundo dos três destroyers do projecto 956EM. A Índia recebeu três rampas de lançamento vertical para os sistemas de mísseis anti-barco Club-N e dois aviões caça-submarinos modernizados Iliushin Il-38SD. Vietname e Coreia de Sul receberam lanchas de guerra.

O acontecimento mais importante do ponto de vista económico, político e militar no campo da venda das armas foi o fornecimento ao Irão de 29 sistemas de mísseis anti-aéreos Tor-M1 no valor de 700 milhões de dólares.

Bielorrússia, Síria, Índia e Marrocos estiveram também entre os maiores aquisidores de material bélico anti-aérea.

A Rússia exportou também armamentos para as tropas terrestres, destacando-se a venda de 60 blindados ao Bangladesh e Indonésia e de 48 veículos blindados para o Uruguai.

JM (Lusa)

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Acredite se quiser...


O diário Komsomolskaia Pravda publicou hoje uma lista de setenta e duas doenças que impedem os cidadãos da Rússia de trabalharem como funcionários públicos. O documento foi elaborado pelo Ministério da Saúde da Rússia, dirigido por Mikhail Zurabov (na foto).
A lista é encabeçada pela "forma aberta de tuberculose", depois vem a a toxicodependência e o marasmo. Até aqui, nada de extraordinário.
Porém, ficámos também a saber que o hipopitiuitarismo e a acromegalia, ou seja, os anões e os gigantes não poderão ser funcionários públicos, bem como os diabéticos, doentes cardíacos, pessoas com deficiências motoras, etc., etc.
O Komsomolskaia Pravda ironiza a propósito, assinalando que "na lista de Zubarov", não estão as "doenças vergonhosas": esquentamentos e sífilis, mas "também nada diz sobre se é necessário ou não ter a consciência limpa para se ser funcionário público".
Outro jornal, o Moskovskii Komsomolets revela que o actual Primeiro-ministro russo, Mikhail Fradkov é diabético.
O documento não esclarece igualmente a partir de que altura é que a pessoa é considerada "anão" ou "gigante". Será que o padrão médio é a altura do Presidente Putin?
Isto faz lembrar uma velha anedota: "O leão, rei dos animais, juntou toda a bicharada e anunciou: - Iremos extreminar os animais que tenham a boca maior!
- Coitadinhos dos crocodilos! - comentou o hipopótamo".

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Forças Armadas renovam armamentos



O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Ivanov, apresentou hoje no Parlamento as ambições dos generais russos, anunciando a renovação de metade dos armamentos até 2015.

Os analistas viram no discurso de Ivanov perante os deputados propaganda eleitoral a mais de um ano das presidenciais, onde ele poderá vir a ser um dos principais candidatos.

“Cerca de 45% do material militar actual será substituido no quadro do rearmamento do Exército e da Armada até 2015” – declarou o ministro.

As Forças Armadas da Rússia receberão 50 novos mísseis balísticos Topol-M, 50 bombardeiros estratégicos Tu-160 e Tu-95, 31 barcos de guerra, bem como tanques, o que implicará custos da ordem dos 146 mil milhões de rublos (42 milhões de euros).

“Agora, o problema da falta de dinheiro não é agudo, as encomendas militares feitas pelo Estado são pagas até ao último cêntimo” – sublinhou Ivanov.

O também vice-primeiro-ministro e um dos mais fortes candidatos à sucessão de Putin no Kremlin em 2008 garantiu que o seu país irá cumprir os compromissos internacionais no que respeita à liquidação de rampas de lançamentos de mísseis.

“Por muito triste e doloroso que isso seja, se nos comprometemos, devemos cumprir os compromissos. Disso depende o prestígio e imagem da Rússia no mundo” – disse Ivanov.

Porém, considerou um erro a liquidação dos mísseis de médio alcance pela Rússia: “Claro que foram cometidos erros. Penso que um dos mais sérios, que se reflecte de forma negativa na nossa segurança, foi a liquidação de todo um tipo de mísseis de médio alcance”.

“ Eu não teria feito isso. Porque, hoje, há no mundo dezenas de Estados que possuem mísseis de médio alcance. Só nós e os Estados Unidos não temos direito a possuir essas armas” – sublinhou o ministro.

Ao discursar perante os deputados, Ivanov reafirmou também que “A Rússia reserva para si o direito a um ataque preventivo em caso de agressão, mas não será nuclear”.

O ministro anunciou que, hoje, as Forças Armadas da Rússia são constituídas por 1.300 mil de homens, sublinhando que “não podemos reduzi-las mais”.

Putin deu ordem para disparar de lança-granadas contra escola de Beslan


O deputado comunista russo Iúri Ivanov acusou o Presidente Putin de ter dado pessoalmente ordem para que as tropas especiais russas disparessem de lança-granadas contra o edifício da Escola Nº 1 de Beslan, que guerrilhos separatistas tchetchenos ocuparam a 1 de Setembro de 2004.

“A explosão na escola foi provocada pelos serviços secretos, eles dispararam de lança-granadas. Essa ordem só podia ter sido dada por um homem: o Presidente Vladimir Putin” – declarou Ivanov, que fez parte da comissão parlamentar que investigou a crise de reféns em Beslan.

Segundo o deputado comunista, foi precisamente o disparo de lança-granadas que provocou o caos, fazendo com que a libertação dos mais de mil alunos e professores reféns terminasse na morte de 334 pessoas, a maioria das quais crianças.

Iuri Ivanov não é o único membro da comissão que discorda das conclusões tiradas por ela, que culpa os terroristas tchetchenos de terem provocado a primeira explosão e justifica as acções das tropas especiais russas durante a libertação dos reféns. O deputado Iúri Saveliev realizou uma investigação independente que diverge da versão oficial.

Ivanov considera que o Kremlin não queria permitir que o dirigente dos separatistas tchetchenos, Aslan Maskhadov (assassinado em 2005), iniciasse conversações com os terroristas, receando que ele conseguisse convencê-los a render-se. Neste caso, o prestígio de Putin ficaria fortemente abalado e, por isso, recusou-se a estabelecer conversações com os terroristas e declarou que o Governo não negoceia com eles.

Dmitri Peskov, representante do Kremlin, recusou a comentar as palavras do deputado comunista, acrescentando que as conclusões da comissão parlamentar são “sérias” e “desapaixonadas”.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Contributos para a História (ANGOLA)


Não sei até que ponto é que o artigo abaixo publicado contém dados novos, mas decidi traduzi-lo e publicá-lo no meu blog. Trata-se do artigo "Máfia dos Diamantes. Episódios pouco conhecidos da História Contemporânea de Angola" de Serguei Kononov, russo que trabalhou nesse país africano. Em russo, ele foi publicado no Nº 11 de 2003 da revista "Ásia e África Hoje".


"Nos melhores anos, Angola extraía 2,39 milhões de carates de diamantes por ano, o que constituía 8-9% da extracção dessas pedras no Continente Africano. Nos primeiros anos depois da proclamação da independência, em 1975, o Governo angolano não soube manter a indústria diamantífera ao nível devido e os volumes da extracção desceram várias vezes. Isso foi devido a várias circunstâncias. Tratou-se do êxodo em massa da população branca, incluindo especialistas em minas, e da guerra ininterrupta contra os movimentos da oposição da UNITA e FNLA, que eram apoiados pelo Governo sul-africano e pela CIA.
O contrabando dos diamantes angolanos que eram roubados das minas da companhia angolana "Diamang" provocou também um prejuízo considerável. Em 1985, realizou-se em Luanda o julgamento do caso de contrabando de diamantes, conhecido como processo dos "camanguistas", sobre o qual os órgãos de informação russos praticamente nada informaram então. O autor destas linhas trabalhava, nessa altura, em Angola e muitos dos acontecimentos ligados ao processo ocorreram na sua presença.
A especulação nos mercados locais entre a população mais diversa de Luanda chamava-se "candonga". E se era preciso dizer que a mercadoria foi comprada no mercado, dizia-se "comprei na candonga". Curto e claro.
O autor deste artigo teve várias vezes a oportunidade de se convencer da existência do tráfico ilegal de diamantes da província Lunda Norte. Confidentes angolanos propuseram-me por mais de uma vez adquirir uma certa quantidade de "pedrinhas" por um preço muito moderado, podendo o pagamento ser feito com mercadorias, claro que não ao preço do Estado, mas da "candonga". Reconheço que senti tentação... Mas, seguindo o provérbio: "Deus protege aquele que se protege", recusei sempre as propostas tentadoras. Porque elas podiam partir de agentes da segurança estatal local, cujos instrutores eram contra-espiões soviéticos...
Em 1978-1979, o comércio ilegal de diamantes estava nas mãos da organização "Grupo Caravela". Em linguagem moderna, isso chamar-se-ia um grupo criminoso organizado. A sede ou "protecção" era a empresa "Pérola de Bengo", propriedade de João Batista, que, juntamente com Joaquim Rocha, dirigia toda a actividade da empresa.
O transporte de diamantes ou "mercadoria" era feito pelo piloto Fernando Mendes da Silva, conhecido pela alcunha de "Colorau". Ele transportava também o dinheiro, exclusivamente em moeda estrangeira, recebido dos compradores.
Nos finais de 1980 e início de 1981, regressou de Portugal a Angola Eduardo Alcouce, que criou na capital, juntamente com Rocha, a empresa respeitável "Actimel", um bom disfarce para a candonga. Em 1982, em Portugal formou-se o "Diamante Clube de Portugal", que se tornou, no fundo, um sindicato para controlar o mercado de diamantes.
Em Angola, além do "Grupo Caravela", apareceu um segundo grupo, ligado ao clube diamantífero português, com sede em Luanda. Tratou-se da empresa "Stand Univendas", dirigido por António Gonçalves da Costa, conhecido pela alcunha de "Fúria". Ambos os grupos estabeleceram laços fortes nos mercados diamantíferos tradicionais europeus. Os diamantes para os países europeus eram transportados por pilotos da companhia aérea angolana TAAG. Depois, eram enviandos para a Bélgica, onde a venda da mercadoria era feita por Serge Honig, Adolf Berg, um tal Roberto e outros.
Na própria Angola, os contrabandistas criaram uma séria de casas de câmbio. As despesas dos exploradores e dos especulantes de diamantes no interior do país eram pagas em moeda local e o valor do dólar no mercado negro era tal que o câmbio era mais uma forma dos grupos criminosos organizados terem lucro.
Não obstante a concorrência, os grupos entendiam-se no cumprimento do código comercial da honra. Por exemplo, eles informavam um ao outro as quantias e a envergadura das operações a fim de evitar fugas de "mercadoria" do sistema. Do outro lado, os compradores belgas não adquiriam diamantes além dos vendedores do "sistema".
Por exemplo, quando os comerciantes independentes Zeca Sibéria e Toni Calles, depois de chegarem à Bélgica, tentaram vender diamantes das minas angolanas, ladeando os intermediários portugueses, ofereceram-lhes um preço quatro ou cinco vezes inferior ao que os diamantes eram comprados às companhias monopolistas.
A rede ligada ao "Clube Diamante" estendia-se até ao Zaire, para onde os diamantes eram transportados por condutores de camiões através da fronteira na província Lunda Norte.
Porém, em 1983, a harmonia foi destruída pelo aparecimento de mais uma rede indendente das duas primeiras. Tratava-se da rede de Luís Barria Sousa da Silva, nascido na província do Bié, que tinha fugido, depois da proclamação da independência, para a Namíbia, onde, segundo dados da segurança de Estado angolana, colaborou com os homens da UNITA. Luís da Silva, em 1982, foi para Portugal, criando aí uma poderosa empresa de "encaminhamento de diamantes" com ligações em Espanha e Bélgica.
Esta rede de representantes mais jovens, dinâmicos e agressivos do mundo "camaguista", que começou a atrair as pessoas necessárias de outros grupos. Eles infiltraram também dois agentes nos grupos concorrentes do tráfico diamantífero para os estudar com vista à desintegração desses grupos.
Os "camanguistas" do Silva estabeleceram negócios com embaixadas de uma série de países. Eles recebiam os diamantes directamente das minas das províncias setentrionais do país, ladeando a corrente de intermediários.
Tal como os dois primeiros grupos, foram criadas casas de câmbio ilegais para trocar moeda convertível pelos quanzas locais. Os pilotos portugueses da companhia aérea TAAG, Artur Pereira e Rui Cardoso, garantiam o transporte dos diamantes para Portugal.
Parte significativa dos diamantes, por caminhos trilhados, ia para o Zaire, e daí, o piloto José Marques dos Santos, no avião companhia aérea portuguesa TAP, trazia-os para Portugal, e daí para os EUA.
Pergunta-se: porque razão para os EUA?
Esta era precisamente a particularidade deste grupo de "camanguistas". O problema era que a maior parte dos diamantes roubados das minas eram diamantes de 2-3 carates. Os consumidores principais dos diamantes pequenos são a indústria americana, antes de tudo a militar. Desse modo, os diamantes angolanos enviados ilegalmente para a América participavam "indirectamente" no fabrico de armamentos fornecidos, com a ajuda da CIA, aos movimentos da oposição UNITA e FNLA
Assim foi até 1985. Com os esforços dos órgãos de segurança do Estado, com o apoio de conselheiros do KGB, todos os três grupos de "camaguistas" foram desmantelados. A maioria dos participantes foram detidos e julgados pelo tribunal popular de Angola.
A companhia de extracção de diamantes "Diamang" calculou o prejuízo causado pelos três grupos de traficantes de diamantes numa quantia comparável ao valor de metade da importação anual de alimentos para Angola.
A direcção de Angola dedicou enorme atenção ao processo dos traficantes de diamantes. Sobre os prejuízos causados à economia do país pelo contrabando de diamantes falou, numa das suas intervenções, o secretário para a ideologia do CC do MPLA, Roberto Almeida (cito pelas notas no meu diário): "Os camanguistas provocaram um enorme prejuízo à economia de Angola, alimentaram e apoiaram o grupelho da UNITA. À primeira vista, os "camanguistas" tinham apenas como objectivo o enriquecimento pessoal, mas as suas consequências e os objectivos eram significativamente mais amplos: desestabilizar o Estado. O contrabando de diamantes e o câmbio ilegal de dinheiro visavam sufocar a circulação monetária, reduzir ao mínimo os lucros da "Diamang", garantir o apoio material a grupos de fantoches".
Segundo os investigadores dos órgãos de segurança, tão grande contrabando de diamantes não podia existir eficazmente sem amplas ligações corruptas na direcção do país. Mas nenhum dos altos funcionários apareceu no processo, embora um dos dirigentes da segurança de Estado da província de Huila me tenha segredado que, no processo dos "camaguistas", esteve envolvido o antigo ministro da Defesa, Iko Carreira.
É sabido que, nesse caso, esteve envolvido o angolano Fernando Fragata. Jogador da selecção de hóquei em patins, Fragata foi recrutado em Lisboa pelo agente secreto americano Raul Dias. Na capital de Angola, Fragata tinha o arquivo, o transmissor e cifras do antigo consul americano em Luanda. Ele tinha dinheiro suficiente para realizar trabalho de espionagem, incluindo dólares americanos.
Por todos os crimes, que, além de espionagem, incluía tráfico de diamantes, Fragata foi condenado à morte. Depois, a sentença, na parte da acusação pelos crimes contra a segurança do Estado, foi suspensa devido à necessidade de maior investigação. Fragata cumpriu, por tráfico de diamantes, a pena de seis anos de prisão no campo de concentração de Bentiaba, onde o autor do artigo teve oportunidade de o ver.
Assim terminou o processo sobre o contrabado de diamantes en grande envergadura de Angola para a Europa e os EUA.
Alguns angolanos disseram-me que, no mercado negro de diamantes dos países europeus, surgiam também diamantes soviéticos. Então, acreditava nisso com dificuldade... Porém, as publicações dos últimos anos sobre o aumento inédito da criminalidade, nomeadamente nessa época, convenceram-me que tudo podia ter acontecido. Afinal, em que somos piores?.."