Blog do Kuramoto

Este blog se dedica às discussões relacionadas ao Open Access

Poeira da via Dourada embaça a nitidez da via Verde para o Acesso Livre

Stevan Harnad publicou em seu blog um post muito interessante, no qual ele apresenta algumas conclusões provenientes do relatório elaborado por Houghton et al. (2009). Bem, tentei traduzí-lo.Sei que traduções são perigosas. Mas, fí-lo com o propósito de ajudar os leitores que têm dificuldades com a lingua inglesa, segue-o abaixo:

O principal objetivo das iniciativas Open Access(OA), em todo o mundo, é de tornar livremente acessível cerca de 2,5 milhões de artigos publicados que são anualmente publicados em aproximadamente 25 mil revistas científicas com revisão por pares, em todo o planeta. Sem exceção, cada um desses artigos é uma doação escrita, não para obter renda por meio de royalties, mas apenas para ser usado, aplicado e desenvolvido por outros pesquisadores.

A solução ótima e inevitavel para esta doação de pesquisas é que ela deve tornar-se livremente acessível para todos os seus potenciais usuários em linha e não apenas para aqueles cujas instituições podem assinar as revistas nas quais estas pesquisas são publicadas.

Apesar desta solução ideal e inevitável encontrar-se totalmente ao alcance da comunidade científica global há pelo menos duas décadas; uma série de equívocos generalizados e tenazes provocou uma demora consideravelmente longa para ser apreendida.

Esta solução é destinada a universidades e agências de fomento, em todo o mundo para, por meio de mandatos “publicar ou perecer”, requerer a seus funcionários e financiados, respectivamente, para maximizar o uso e impacto de suas pesquisas, os quais são empregados e financiados, respectivamente, para conduzir e publicar, por meio do auto-arquivamento, suas pesquisas em repositórios institucionais de acesso livre, imediatamente após a sua aceitação para publicação, para torná-los livremente acessíveis a todos os potenciais usuários da web. As universidades precisam transformar, o auto-arquivamento de pesquisas em repositório institucional, em mecanismo oficial de revisão e avaliação das pesquisas, podendo utilizá-lo para também monitorar e assegurar a sua conformidade com mandatos das agências de fomento. As métricas OA podem ser utilizadas para medir e premiar o progresso, uso e impacto das pesquisas; e múltiplas comadas de links, tags, comentários e discussões podem ser construídos e integrados com a pesquisa primária.

Planos de universidades e agências de fomento para pagar os custos de publicação em revistas OA (via Dourada) são ainda prematuros. Os fundos são pequenos; cerca de 80% das revistas (incluindo virtualmente as revistas mais conceituadas) utilizam ainda o modelo em que os leitores pagam para ter acesso, ou também chamadas revistas acessíveis via assinaturas, amarrando os potenciais fundos a pagar pela via dourada; o preço da taxa de publicação na via Dourada é ainda muito alto e a preocupação é que pagando para publicar pode inflacionar a taxa de aceitação e o baixo padrão de qualidade.

A primeira coisa necessária às universidades e agências de fomento são mandatos OA de autoarquivamento (via Verde). Isto irá promover o imediato OA. Em seguida, se e quando a via Verde se universalizar, deve tornar as assinatura insustentáveis (porque os usuários estão satisfeitos com os resultados da via Verde e então as suas instituições cancelarão as suas assinaturas de revista científicas) isto induzirá as revistas a cortarem custos (devido a queda das edições impressas, em linha e fornecimento de acesso, e arquivamento), os cortes preservarão apenas os serviços de revisão por pares. Em seguida essas revistas converterão os seus modelos de negócios aderindo à via Dourada, reduzindo-se ao modelo de recuperação de custos. Enquanto isto, o cancelamento de assinaturas promoverá a criação de fundos institucionais para pagar custos mais baixos desses serviços residuais.

A forma natural de cobrar por serviços de revisão por pares será então sem culpa, com a instituição do autor ou agência de fomento pagando por cada etapa de revisão por pares independentemente dos resultados (aceitação, revisão/re-revisão, ou rejeição). Isto minimizará custos e protegerá contra o inflacionamento da taxa de aceitação e declínio no padrão de qualidade.

Entre as mais importantes implicações do relatório Houghton et al’s(2009), mediante a oportuna e esclarecedora análise de custos e benefícios realizada pela JISC a respeito do fornecimento de acesso livre a artigos publicados em revistas com revisão por pares, destaca-se como particularmente convincente: esta iniciativa produziria a melhor relação benefício/custos, na proporção de 8/1 se as pesquisas fossem todas auto-arquivadas por seus autores de forma a torná-los acessíveis livremente. Esta vantagem de 8 vezes é substancialmente maior que todas as outras potenciais combinações de alternativas para o status quo, analisado e comparado por Houghton et al, incluindo a via Dourada. Este resultado é mais significante considerando-se que a transição pela via Verde já está inteiramente nas mãos da comunidade científica (pesquisadores, suas instituições e suas agências de fomento), enquanto que a transição pela via Dourada depende da comunidade editorial científica.

junho 2, 2011 - Posted by | Sem categoria | , , , , ,

6 Comentários »

  1. Olá kuramoto, aqui é a Eliana . Tive a impressão de que a via dourada está nas mãos da classe dominante (intermediários responsáveis pela distribuição e venda do produto) e a verde nas mãos dos produtores da informação científica. Talvez fosse viável promover uma maior coesão cooperativa e fortalecimento dos produtores com a finalidade de escoar mais facilmente seus produtos? Uma visão empreendedorista na comunicação científica, cujo lucro é da Nação.
    Se eu tiver distorcendo conceitos, aceito suas críticas como forma de aperfeiçoar meus conhecimentos. Apesar de tudo, tem que ter uma saída.

    Comentário por Eliana | junho 11, 2011 | Responder

  2. Olá kuramoto, aqui é a Eliana . Tive a impressão de que a via dourada está nas mãos da classe dominante (intermediários responsáveis pela distribuição e venda do produto) e a verde nas mãos dos produtores da informação científica. Talvez fosse viável promover uma maior coesão cooperativa e fortalecimento dos produtores com a finalidade de escoar mais facilmente seus produtos? Uma visão empreendedorista na comunicação científica, cujo lucro é da Nação.
    Se eu estiver distorcendo conceitos, aceito suas críticas como forma de aperfeiçoar meus conhecimentos. Apesar de tudo, tem que ter uma saída.

    Comentário por Eliana | junho 11, 2011 | Responder

    • Olá Eliana,
      obrigado pelos seus comentários. Eles são bem coerentes. E, exatamente, pelo fato de a implantação da via dourada depender dos editores científicos, considera-se a via verde como a mais viávels, pois, depende da comunidade científica, em especial dos produtores da informação. Em função disto é que se recomenda a adoção da via verde, porque a via dourada tenderá a demorar. Aliás, o que Stevan diz é que a via dourada virá forçosamente à partir da implantação da via verde, pois, na medida em que os pesquisadores depositarem os seus trabalhos nos repositórios, a tendência é o cancelamento das assinaturas das revistas científicas e, então os editores terão que buscar a sustentabilidade às suas revistas e diminuir custo. E, muito provavelmente, eles adotarão o modelo autor-paga e, neste caso, com a redução dos custos, a taxa de publicação será bem menor do que a que estão adotando hoje, variando de mil dólares a cinco mil dólares.
      Um abraço.
      Kura

      Comentário por Helio Kuramoto | junho 11, 2011 | Responder

  3. […] livre e do seu objetivo. Dentre os diversos receios, um refere-se à ameaça que a estratégia Verde do OA poderia trazer aos portais de periódicos […]

    Pingback por Que ameaças o OA pode trazer aos portais de revistas científicas? | Blog do Kuramoto | julho 19, 2011 | Responder

  4. […] um movimento global e, assim, diversos países vêm implantando a estratégia preconizada pela via Verde. As suas universidades, institutos de pesquisa e agências de fomento vêm implantando políticas […]

    Pingback por OA: Mitos e Verdades II | Blog do Kuramoto | agosto 12, 2011 | Responder

  5. […] das taxas de publicação está ainda muito alto. A tendência é que este custo baixará, leiam post publicado em meu blog, traduzido de um post de Stevan Harnad. Neste post, Stevan explica que à […]

    Pingback por OA: Mitos e Verdades III | Blog do Kuramoto | agosto 13, 2011 | Responder


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